Eu estava no último ano da faculdade de medicina, ansiosa e receosa pela formação.

Na época fazíamos alguns plantões em que passávamos a noite no hospital e ajudávamos em toda e qualquer intercorrência que acontecesse com os pacientes ali internados.

Recebi um comunicado de que deveria ir com urgência ver uma paciente. Fui correndo e ao chegar no leito encontrei com a equipe de enfermagem ao lado de uma senhora.

Nenhum médico estava presente até aquele segundo.

Me aproximei da senhora deitada em sua cama, e ela estava ofegante, me olhou com olhar assustado (na verdade, apavorado) e com voz abafada sussurrou ‘’me ajuda por favor! Eu não consigo respirar!’’. E logo em seguida seu coração parou de bater.

Com a ajuda da enfermagem iniciamos massagem cardíaca. A médica de plantão logo chegou, dando sequência no manejo.

Alguém gritou ‘‘checar pulso’’, mas não havia pulso (coração se mantinha sem bater).

Continuamos.

E novamente.

E mais, e mais.

Eu só pensava no pedido daquela senhora, e o quanto eu queria que aquilo tudo fizesse com que o quadro se tornasse reversível, e ela voltasse a viver.

Após mais de 1 hora tentando fazer o coração voltar a bater, percebemos que esta não seria mais uma opção.

Foi declarada a hora do óbito naquele momento.

Eu fui dar a notícia para a família, porém quando abri a porta do quarto para comunicar sobre a triste notícia vi no corredor não só um familiar, mas vários. Alguns com crianças de colo, pessoas jovens e pessoas idosas, me olhando ansiosos pela notícia que daria.

Já ouvi na minha formação de medicina que não podíamos chorar em frente a ninguém, pois devíamos nos manter fortes. Ao olhar aquela família toda esperando pelo destino deles a partir da notícia, eu não fui capaz… eu chorei.

Não consegui emitir uma palavra sequer, apenas chorar.

E para minha surpresa, se contrapondo ao ensino que recebi sobre o não chorar,  um a um me abraçou. Do filho ao neto. Da Irmã ao esposo.

Cada um deles me abraçou e agradeceu. Compreenderam o meu silêncio, e as minhas lágrimas.

Não havia necessidade de palavras, não naquele momento. Eles sentiram o que eu queria expressar.

Todos eles me ensinaram mais do que a medicina seria capaz de me proporcionar.